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E se o PlayStation 1 não tivesse existido?

Realidade alternativa do PlayStation: o que aconteceria com o mercado de videogames se o acordo entre a Nintendo e a Sony tivesse dado certo?

9 anos e meio atrás

Bem antes do primeiro PlayStation, Nintendo e Sony já trabalharam juntas para que esta criasse um drive de CD-ROM para o SNES. O ano era 1988 e o codinome do projeto era “Play Station”. Três anos depois, ao reler o contrato firmado com a Sony, o então presidente da Nintendo Hiroshi Yamauchi percebeu que estava na verdade era ajudando a criar um fortíssimo concorrente no ramo dos videogames: ele preferiu abortar tudo pois os jogos feitos para o SNES Play Station pagariam royalties de licenciamento à Sony, não à Nintendo.

Laguna_SNES_PlayStation

Sim, existiu o Super Nintendo Play Station (crédito: Kotaku)

Depois de algumas brigas judiciais entre as japonesas que resultaram em algumas raríssimas unidades do console híbrido, o então presidente da Sony Norio Ohga pediu que Ken Kutaragi, o homem que convenceu a Big ‘N’ a incluir um chip sonoro da Sony em cada Super Nintendo, retirasse o que havia de SNES no Play Station para desenvolver um console próprio. Nascia assim o PlayStation (duas palavras, sem nenhum espaço entre ambas), console da 5ª geração que foi lançado no Japão dia 3 de dezembro de 1994.

O tio Laguna fica aqui a imaginar: e se a história tivesse se desenvolvido de forma diferente?

Cenário 1: Hiroshi Yamauchi aceita o contrato do jeito que ele estivesse

Bom, o SNES Play Station teria sido o concorrente do SEGA CD, acessório do Mega Drive. A Sony teria lucrado com jogos multiplataforma de nicho, como o adventure Snatcher, que exigiam CDs embora não exigissem um console de 32 bits. Talvez para combater tanto o SEGA 32X quanto o Saturn que Nintendo e Sony fariam um novo acordo para desenvolverem juntas um console de 5ª geração.

Forçando a barra, talvez a Sony e a Nintendo divergissem quanto ao uso de CDs, tanto pela questão da pirataria quanto pela agilidade maior (menor latência) do cartucho em determinados tipos de jogos. Mas supondo que nem o uso dos CDs abalaria a amizade entre elas no PlayStation 64 (ou Ultra PlayStation), seria um belo sonho ver Ken Kutaragi cuidando do hardware que seria utilizado pelo Shigeru Miyamoto em seus belos softwares.

Quem se daria muito mal mesmo seria a SEGA, que teria um super concorrente contra o qual ela não poderia competir por muito tempo. Morreria no Dreamcast mesmo e provavelmente seria comprada pela Microsoft, cujo único objetivo nos videogames sempre foi acabar com a Sony. Que o diga a tabela abaixo:

LUCROS COM VIDEOGAMES
Ano fiscal (término) Sony (toda) Nintendo Microsoft (divisão Xbox)
1981 Ausente dos consoles + US$ 19.998.400 Ausente dos consoles
1982 Ausente dos consoles + US$ 95.802.440 Ausente dos consoles
1983 Ausente dos consoles + US$ 84.221.280 Ausente dos consoles
1984 Ausente dos consoles + US$ 71.057.070 Ausente dos consoles
1985 Ausente dos consoles + US$ 83.218.020 Ausente dos consoles
1986 Ausente dos consoles + US$ 225.388.440 Ausente dos consoles
1987 Ausente dos consoles + US$ 302.068.800 Ausente dos consoles
1988 Ausente dos consoles + US$ 369.383.560 Ausente dos consoles
1989 Ausente dos consoles + US$ 483.794.640 Ausente dos consoles
1990 Ausente dos consoles + US$ 448.355.840 Ausente dos consoles
1991 Ausente dos consoles + US$ 981.947.680 Ausente dos consoles
1992 Ausente dos consoles + US$ 1.109.515.840 Ausente dos consoles
1993 Ausente dos consoles + US$ 1.279.146.880 Ausente dos consoles
1994 Ausente dos consoles + US$ 962.438.080 Ausente dos consoles
1995 Ausente dos consoles + US$ 957.146.400 Ausente dos consoles
1996 – US$ 93.491.480 + US$ 752.481.940 Ausente dos consoles
1997 + US$ 508.270.950 + US$ 579.934.080 Ausente dos consoles
1998 + US$ 954.197.760 + US$ 1.024.464.480 Ausente dos consoles
1999 + US$ 1.073.609.660 + US$ 1.228.994.940 Ausente dos consoles
2000 + US$ 693.184.350 + US$ 1.306.720.300 – US$ 1.090.000.000
2001 – US$ 463.129.080 + US$ 767.354.820 – US$ 1.666.000.000
2002 + US$ 664.149.150 + US$ 954.399.510 – US$ 866.000.000
2003 + US$ 924.881.130 + US$ 821.985.200 – US$ 938.000.000
2004 + US$ 599.416.860 + US$ 955.148.210 – US$ 1.011.000.000
2005 + US$ 402.344.400 + US$ 1.039.385.040 – US$ 464.000.000
2006 + US$ 77.419.800 + US$ 799.588.650 – US$ 1.329.000.000
2007 – US$ 1.988.702.000 + US$ 1.934.765.440 – US$ 2.016.000.000
2008 – US$ 1.092.978.300 + US$ 4.277.791.600 + US$ 426.000.000
2009 – US$ 584.760.000 + US$ 5.552.630.000 + US$ 169.000.000
2010 – US$ 890.000.000 + US$ 2.450.000.000 + US$ 679.000.000
2011 + US$ 429.000.000 + US$ 946.000.000 + US$ 1.324.000.000
2012 – US$ 2.800.000.000 – US$ 434.500.000 + US$ 364.000.000
Total dos lucros: – US$ 1.586.586.800 + US$ 32.430.627.580 – US$ 6.418.000.000

♮  
É, a MSFT investiu bilhões para acabar com a Sony nos games e ainda não conseguiu.

Imagina a Microsoft enfrentar um monopólio formado por Sony e Nintendo juntas, mesmo comprando a SEGA e outras editoras/desenvolvedoras tão gigantes quanto. Lembrando que o PlayStation 2 foi um sucesso tão grande que praticamente era monopólio, com base instalada bem superior à soma dos concorrentes.

Voltando ao assunto principal do texto para justificar seu título…

Cenário 2: a Sony desiste de vez dos videogames

Vamos supor que embora o projeto inicial tenha sido desenvolvido em conjunto, a Nintendo detivesse toda a propriedade intelectual do que foi o SNES Play Station e Ken Kutaragi fosse despedido da Sony por colaborar com a Nintendo usando no SNES o chip Sony SPC-700.

A Sony então dedicar-se-ia ao que sabe fazer melhor: eletrônicos de luxo. Provavelmente os esforços da equipe que formou a Sony Computer Entertainment seriam concentrados para criar o iPod e o iPhone antes da Apple. Estaríamos especulando sobre o vazamento do próximo Walkman Phone agora em vez do smartphone celebridade da Apple.

Quanto aos consoles, o mais divertido é pensar que a guerra dos 16 bits entre Nintendo e SEGA teria se estendido por bem mais tempo. Concorrentes como o 3DO, Jaguar e Neo Geo poderiam ter durado até o final do século.

Aliás, sem a Sony a Microsoft nem entraria no mercado de videogames fazendo ofertas malucas: imaginem que o rival do GameCube seria uma versão melhorada do saudoso console da SEGA, o Dreamcast 2. Provavelmente com Shenmue III como jogo de lançamento, usando DVD.

Laguna_Dreamcast_2_vs_Gamecube-f

Na sexta geração teríamos Dreamcast 2 versus Gamecube (crédito: EGM Brasil nº 34, dica do GAF)

Conclusão

É quase impossível imaginar um mundo hoje, em plena 8ª geração, sem o console da Sony. Sem o PlayStation, os videogames seriam aparelhos de nicho pois não teríamos uma indústria de games já multibilionária no momento certo, ali no final do século XX.

Enfim, o mercado de consoles dedicados está vivendo uma época irônica onde o console da Sony precisa salvar o restante da empresa mas, caso repita o desempenho do PlayStation 2 (spoiler: passar dos 100 milhões de unidades antes de 2018 não vai), o PlayStation 4 estaria nos condenando a ver a Microsoft desistir do Xbox One (spoiler: não vai, mas sei lá) e a situação da Nintendo, embora economicamente confortável graças ao seu passado, parece que repetirá a do GameCube, onde ela vai precisar desenvolver um sucessor que traga mais não-gamers ao mercado.

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