Ronaldo Gogoni 10 anos atrás
Quando o Tribunal de Justiça da União Europeia decidiu mais cedo nesta semana que cidadãos poderiam exigir que motores de busca - principalmente o Google - removessem referências a indivíduos dos resultados de pesquisa, muita gente sabia que isso poderia iniciar um movimento perigoso, com muita gente querendo apagar referências de acontecimentos passados. Desnecessário dizer que é exatamente o que está ocorrendo.
Tudo começou quando Mario Costeja González, um calígrafo espanhol entrou com uma ação contra o Google exigindo que referências sobre uma antiga dívida quitada fossem removidas mo motor de busca. O caso ocorreu em 1998, quando o jornal La Vanguardia publicou um anúncio de venda de apartamentos de inadimplentes. González era um dos devedores e o caso foi encerrado posteriormente, mas quando o jornal digitalizou seu conteúdo em 2008, seu nome foi associado ao caso e qualquer busca retornava a página do jornal. Ele originalmente queria que a página do jornal também fosse removida, mas acharam que aí já era demais e mandaram González catar coquinhos. Entretanto a decisão favorável ao caso do espanhol em garantir o "direito ao esquecimento criou um precedente desagradável.
O Google já reporta ter recebido notificações de cidadãos que desejam que referências passadas sejam eutanasiadas das buscas, como por exemplo o caso de um ex-político que tenta se reeleger, pedindo para que notas aludindo seu comportamento pregresso sejam apagadas (em poucas palavras, referências a corrupção). Em outro caso, um médico que recebeu reviews negativos de seus pacientes pede para que se faça o mesmo com seus resultados de pesquisa. E para completar o show de absurdos, um pedófilo condenado por compartilhar fotos de crianças abusadas exigiu que resultados de pesquisas que levam a sites comentando sua condenação sumam do Google.
Enquanto muita gente da União Europeia comemorou a decisão, outros a receberam com muita preocupação. O fundador da Wikipedia Jimmy Wales disse que "a medida pode causar um frio na espinha de qualquer pessoa na União Europeia que acredita na importância da liberdade de expressão e informação". Além de ser extremamente complicado para empresas como Google, Microsoft, Yahoo! e outras removerem uma por uma cada referência indesejada (o Google diz que vai implantar uma ferramenta para que cidadãos alemães façam a solicitação de forma simplificada), casos em que informações relevantes e úteis para a comunidade podem sumir pelo simples fato de que um criminoso ou político corrupto mandou apagar seu passado dos motores de busca.
Vale lembrar que isso não é exclusivo da Europa: em 2012 o diretor do Google Brasil Fábio José silva Coelho foi preso quando o YouTube se recusou a deletar vídeos contrários a Alcides Bernal, então candidato a prefeito de Campo Grande (MS). Vale lembrar que Bernal foi eleito, teve o mandato cassado e ontem reassumiu o posto através de uma liminar.
Fonte: TNW.