Carlos Cardoso 10 anos atrás
Eu levei um tempão para entender o motivo dos pardais (ou radar de velocidade, se você mora fora do Rio) serem tão odiados. Até um dia em que um taxista explicou: com o guarda, se ele ver que foi multado pode voltar, conversar, dar um jeitinho. Com o robô, com a câmera automática, não há conversa. Também não dá para confiar na segurança por números. Se todo mundo avançar o limite, o guarda só consegue multar alguns. A câmera, todos.
Andar dentro do limite nunca ocorreu a essas pessoas, que tentam mil esquemas, de colar pedaços de CDs na placa a colocar fitinhas do Senhor do Bonfim amarradas no lacre, na esperança de que o vento fará com que elas tampem a numeração. Um gesto de má-fé e malícia que se fosse EU, o Evil Overlord dessa joça, puniria com esmigalhamento o carro do sujeito que tentasse isso. Como? Claro que o sujeito poderá sair do carro antes. Se souber abrir algemas, claro…
Agora um grupo de estudantes de Física e Astronomia da Universidade de Leicester descobriu uma forma de evitar ser multado por radares que é absolutamente legal, científico e criativo o suficiente para ganhar meu respeito de Evil Overlord. Não, não é nada Stealth, é mais sutil que isso. Eles calcularam que é possível se tornar invisível aos radares usando… Efeito Doppler.
É um dos fenômenos mais conhecidos da Física. Uma onda se aproximando do observador tem sua frequência aumentada, já quando se afasta, a frequência diminui. Daí o vrruuuuuuóóóóm dos carros de F1, sirenes de ambulância e a Expansão do Universo. Sim, o mesmo fenômeno que faz você saber que os puliça estão vindo ou indo é usado para determinar a velocidade com que as galáxias de afastam uma das outras.
Os tais estudantes teorizaram que se o carro estiver rápido o suficiente, a luz que ele emite sofrerá um aumento de frequência suficiente para sair do campo de sensibilidade da câmera, caindo no Ultravioleta. Segundo as contas deles, o carro deverá passar pela câmera a 0,178 c; ou 53.360 km/s. Um tiquinho mais rápido que um Bugatti Veyron, mesmo com o Stig pilotando. É mais rápido que o Mach 5, que o Kitt, que o Herbie.
Um objeto nessa velocidade começa a sofrer efeitos relativísticos, e coisas estranhas acontecem. Eles calcularam que uma Ferrari 458 viajando a 1/6 da velocidade da luz encolheria 7,3 cm. E se há uma coisa que um sujeito que compra uma Ferrari não pode passar é perder 7,3 cm.
O estudo, como tantos outros, não tem aplicação prática imediata. é mesmo só um exercício de imaginação, mas serve como lembrete de que nenhum problema é insolúvel, apenas a solução pode ser incrivelmente complexa e anti-prática. Como Arthur Clarke dizia, todo problema de engenharia pode ser resolvido com tempo e dinheiro suficientes.
O Paper, com as contas, pode ser lido neste PDF aqui.