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As canetas espaciais e os americanos idiotas

Lendas Urbanas não morrem jamais, mesmo assim vale a tentativa. Leia, repasse, clique e por favor ajude a acabar com aquela bobagem de que a NASA gastou bilhões criando uma caneta espacial enquanto os russos usavam lápis.

10 anos atrás

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Algumas lendas urbanas são mais perenes do que outras. São verdadeiros memes, no sentido criado por Richard Dawkins. O modelo que mais funciona é o que faz o leitor se sentir superior, seja através de humilhação direta ou demonstração de inépcia por parte de alguém em situação de poder. A clássica história do USS Enterprise vs um Farol é um bom exemplo. Ela foi rastreada até pelo menos 1931, mas as pessoas continuam passando adiante como verdade.

Afinal, que Davi vs Golias melhor do que um poderoso porta-aviões nuclear sendo humilhado por um reles faroleiro?

No Brasil essas lendas urbanas fazem especial sucesso, pois psicologicamente agradam a dois fatores muito presentes em nossa psiquê: o coitadismo e o antiamericanismo rasteiro. Podemos ser excelentes em diversas áreas, mas nunca perderemos a mentalidade de republiqueta de bananas com cartazes Yankee Go Home. O brasileiro não se contenta com a Embraer dominando a aviação regional nos EUA, quer o McDonald's vendendo feijoada.

Por isso a lenda urbana das canetas espaciais é repetida como um Evangelho.

Na história (note os exageros) os americanos resolveram desenvolver uma caneta para os astronautas usarem no espaço. Ela deveria funcionar no vácuo, de cabeça pra baixo, no frio, no calor. Gastaram US$ 12 bilhões e dez anos de pesquisa até conseguir.

Os russos usavam um lápis.

Ótima história, ataca a mentalidade burocrática, tem a reviravolta final de todo bom causo, ao mesmo tempo é uma lição nos espertinhos da NASA. A pessoa comum, que se sente diminuída diante dos (literalmente) cientistas de foguetes os vê passando vergonha. Pra gente, ainda tem o gostinho de exaltar os russos, os irmãos socialistas vencendo os malditos porcos ianques imperialistas! (sent from my iPad)

Só há um problema. Como você pode ver em Apollo 13, Da Terra à Lua e nos documentários com imagens de época, os americanos usavam lápis e depois lapiseiras. Os russos preferiam lápis, mas nenhum dos dois era uma solução ideal. Caso você se lembre do colégio, lápis é um negócio que quebra a ponta, solta lasca, borra se você passar a mão em cima e, principalmente, é feito de grafite e madeira. O primeiro é um excelente condutor de eletricidade, o segundo um excelente material inflamável.

A tal caneta espacial era uma boa idéia, mas estudos preliminares da NASA deixaram claro que eles não tinham know-how em fazer canetas, sairia caro demais então abandonaram a idéia.

O salvador da pátria foi um sujeito chamado Paul C. Fisher, inventor, que percebeu esse nicho, teve uma idéia de como resolver os problemas de uma caneta espacial, patenteou e em 1965 apresentou seu produto pra NASA.

A chamada AG7 (de anti-gravity) era uma caneta que resistia a temperaturas que iam de -50 a +120 ºC, funcionava em qualquer posição, sem gravidade, não falhava e escrevia em qualquer superfície, até em manteiga. A tinta de secagem rápida não borrava e a carga não dependia de gravidade. Era pressurizada com nitrogênio a 35 psi.

AG79

Fisher gastou US$ 1 milhão do próprio bolso desenvolvendo a caneta. A NASA aceitou de bom grado a caneta, passou 2 anos testando, aprovou com louvor e ela passou a ser usada da Apollo 7 em diante. O custo? A NASA comprou 400 unidades a US$ 2,95 cada caneta. Lapiseiras passaram a ser usadas só em casos onde era preciso rascunhar e apagar.

Isso foi um alívio, pois em 1965 a NASA sofreu críticas por comprar 34 lapiseiras a US$ 128,89 a unidade. O preço barato da Caneta Espacial atraiu até outros clientes, no caso os Soviéticos, que estavam doidos pra aposentar seus lápis de cera (tinham abandonado o grafite também).

Eles compraram 100 canetas e 1.000 refis de tinta, mais um belo caso de cooperação espacial, mostrando que duas nações podem ser inimigas sem que isso signifique que precisam se comportar de forma mesquinha.

A Fisher Space ainda é fabricada. Hoje custa bem mais (afinal é uma caneta espacial) e pode ser comprada no site da empresa por US$ 55,00.

Fonte: TP.

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