Joel Nascimento Jr. 10 anos atrás
Quando, em 2001 a Microsoft, até então somente conhecida no mundo do hardware pelos seus teclados, lançou o Xbox, muita gente torceu o nariz e acreditou em uma breve passagem por um ramo que não era a praia deles. Doze anos se passaram (sim tudo isso!) e o Xbox One, a terceira encarnação do Xbox, chega ao mercado com duas grandes responsabilidades: levar adiante o sucesso do Xbox 360, que ficou 32 meses seguidos como o console mais vendido nos EUA, e justificar o valor mais alto diante do seu novo concorrente, o poderoso PlayStation 4, da Sony.
Será que a Microsoft acertou a mão, será que o alto preço no mercado nacional justifica sua compra hoje, será o Xbox One o equipamento que vai comandar a sala de casa como a central de mídia definitiva? Todas estas perguntas e muitas outras serão respondidas neste review!
O Console
O Xbox One é grande. E seu visual não tenta disfarçar este peso. O design pode ser facilmente resumido a uma enorme caixa preta sem curvas e com alternâncias no acabamento fosco e brilhante. Não é feio, é quase imponente e, acima de tudo, discreto. Não foi feito para ser o centro das atenções na sala, como o Xbox 360 era (com sua cor cinza, LEDs verdes e corpo arredondado). O Xbox One pode passar despercebido no “rack” da sala, colocado entre o receptor da TV e um receiver do home theatre.
Se na parte da frente o Xbox One não chama atenção, por baixo do capô a coisa passa a ficar mais interessante. São 3 portas USB 3.0 localizadas uma na parte lateral e duas atrás, uma porta para conexão via cabo de rede, uma saída HDMI, uma saída de áudio óptica para aparelhos compatíveis e uma entrada HDMI, onde você pode conectar o seu receptor de TV a cabo.
Minha conexão ficou com o receptor da NET ligado na entrada HDMI do Xbox One, que se liga à central do Home Theater e desta vai para a HDTV. Desta forma, não é preciso mais mudar a entrada, quando preciso alternar entre a TV e o console, basta usar o comando de voz e a TV aparece automagicamente na tela.
Ao fim, fica sempre a questão de quão importante é o design de um produto que você não sairá pela rua a mostrar pois estará, muitas vezes, no meio de outros aparelhos, embaixo da TV, pelos próximos seis anos.
Dashboard
Mantendo o padrão “Modern” da Microsoft, a Dashboard do Xbox One não é visualmente muito diferente do seu predecessor. As famosas janelinhas alinhadas estão agora separadas por um hub central, com informações das suas atividades sociais, “pins” que exibe seus apps favoritos, e “Store”, onde você encontra jogos, músicas e videos para comprar. De resto, quase nada mudou na experiência de uso. Mas as semelhanças param por aí.
A nova Dashboard tem integração total com o Kinect, suas funções agora são tratadas como aplicativos. Desta forma cada tarefa é processada paralelamente, se beneficiando dos 8 GB de memória RAM. A troca entre aplicações impressiona pela velocidade. Não é mais necessário encerrar um jogo para poder acessar a TV, ou ver um filme no Netflix. Dá pra pausar o jogo, mudar para a TV para assistir um programa, ou um filme no Netflix, e voltar para o jogo sem precisar carrega-lo novamente. Isto é um ponto bem legal, principalmente quando associado ao comando de voz do Kinect.
O Xbox One é capaz de “falar” com sua TV, seu receptor de TV a cabo e seu equipamento de áudio. Depois de tudo conectado, é realizado um rápido teste que identifica o sinal de controle remoto dos aparelhos e a partir daí ele pode ligar e desligar a TV junto com o console. Uma vez pareados, você passa a assistir TV “dentro” do Xbox One e sua Dashboard, permitindo trocar entre TV e qualquer outra aplicação, incluindo jogos, a qualquer momento.
Uma observação aí: o modo de economia de energia, que permite o stand-by para carregamento mais veloz não se comportou bem com o receptor da TV a cabo. Após pesquisar em alguns fóruns, descobri que o problema é um bug toda vez que uso o modo de economia de energia. Assim, sempre que vou desligar o console, preciso desligá-lo por completo, levando mais tempo para carregar. Não chega a ser uma eternidade, mas me faz perder a funcionalidade até o próximo update do console.
Infelizmente, a grade de TV das operadoras de TV a cabo brasileiras ainda não são compatíveis com Xbox One, o que nem parece algo complicado para poder ser disponibilizado no futuro. Mesmo assim, usar a TV pelo Xbox já torna a experiência mais integrada não apenas com os jogos, mas todos os serviços de mídia online, como Netflix, Hulu Plus ou Xbox Music, como exemplos.
Outra novidade é a função “snap”, que permitem duas aplicações rodando simultaneamente duas telas com aplicações diferentes ao mesmo tempo. É possível jogar na tela maior e deixar o Rdio web do Internet Explorer no canto lateral tocando uma música, num visual semelhante às duas telas do Windows 8.
Game DVR e Upload Studio
Uma das novidades mais interessantes a ser explorada no Xbox One é a possibilidade de gravar seu jogo e até mesmo edita-lo com outros vídeos anteriormente gravados, inserir seus próprios comentários através da câmera do Kinect e publicar tanto na Xbox Live quanto subir o vídeo para o SkyDrive e distribuir da forma que preferir.
É uma forma interessante até mesmo de estimular a criar um canal de games, caso você tenha o dom. O tempo máximo de gravação é de cinco minutos, contra quinze minutos do console da Sony. Porém o Xbox One oferece mais opções de edição.
Aqui, um breve exemplo do que dá pra fazer.
http://www.youtube.com/watch?v=qT3mhjpRYz4
Kinect
A nova versão do Kinect recebeu um upgrade de respeito. O Kinect é a razão pelo Xbox One ser vendido mais caro que o PlayStation 4 nos países civilizados, uma vez que o console não pode ser vendido sem ele. É uma estratégia ousada, mas com um objetivo que faz sentido. Agora, a base de usuários com Kinect é de 100% dos consoles vendidos. Isto dá um número sólido para que os desenvolvedores criem mais jogos compatíveis com o periférico, ou que jogos tradicionais possam se utilizar dos comandos de voz e gestos.
Usei os comandos de voz em inglês e a taxa de resposta é aceitável, mas ainda longe da linha da naturalidade. Um ponto a considerar é que um ambiente com mais ruídos externos prejudica sensivelmente a experiência. Na sala usada para este review, que fica de frente para uma avenida movimentada, o reconhecimento de fala foi bem mais claro durante a noite, por exemplo. Mas um produto não pode ser constantemente condicionado ao meio onde vai funcionar.
A nova câmera tem resolução Full HD, contra a VGA da versão anterior. Também a taxa de reação é de praticamente 1:1, acabando com o famoso “lag” de resposta entre seus movimentos e a resposta em jogo.
Outro lance surpreendente no Kinect é o reconhecimento biométrico. O login da sua gamertag é iniciado instantaneamente, assim que você entra no campo de visão dos sensores. É assombroso sentar no sofá de casa e imediatamente ser saudado pelo Xbox One, sem necessidade de usar o controle. Caso outra conta seja adicionada o mesmo console, o usuário também é reconhecido.
Adicionando o novo controle, o Kinect também sabe quem está no momento jogando, ou quem está apenas sentado no sofá, alterando o perfil sem a necessidade de fazer nada.
Falando no controle…
Controller
O controle do Xbox One repete a qualidade do seu predecessor. Tem peso e forma excelente, se tornando quase imperceptível no manejo, a grande qualidade de qualquer controle.
Das novidades anunciadas, haveria um suposto retorno de força nos gatilhos, mas na verdade é apenas um sensor de vibração para cada um. Fica bastante legal em jogos de tiro, mas não é tudo o que poderia ser.
Outro ponto negativo é a falta de um kit de recarga à venda. Sendo assim, é necessário ter um estoque de pilhas em casa, ou partir pra um conjunto de pilhas recarregáveis.
O novo controle também tem um sensor de movimentos, que adiciona uma nova funcionalidade a alguns jogos. Em Dead Rising 3, ao ser apanhado por um zumbi, basta chacoalhar o controle para se livrar dele. É divertido.
Games
Talvez o grande ponto a ser considerado na hora de comprar um console de nova geração, junto com o preço. O plantel de jogos do Xbox One não é ruim, mas está longe da variedade do Xbox 360. Os dois principais FPS estão lá, assim como Assassins Creed 4 - Black Flag e dois estilos de corrida também podem ser adquiridos (Forza Motorsport 5 e Need For Speed Rivals). Alguns poucos jogos indies, que agora não recebem mais o rótulo de Live Arcade.
Dentro da qualidade visual, há uma vantagem evidente dos títulos similares para a geração passada, mas nada que realmente crie aquele sentimento de “preciso ter um destes!”. É certo que estes títulos chegarão, como o promissor Titanfall mas, por hora, não.
Talvez Ryse: Son of Rome seja o título que apresente gráficos mais surpreendentes, apesar do jogo ter recebido notas mornas. Se quer impressionar os amigos com seu novo console, Ryse é certamente a única que consegue encher os olhos.
E aí?
O Xbox One é um console pelo qual você imediatamente se apaixona por causa das inovações que ele traz. É veloz, tem uma interface esperta, ótimo suporte de aplicativos, para um início de vendas, e é bem promissor quanto aos jogos.
Se houve algum temor de se tornar um console com o típico “quase” que alguns produtos da Microsoft tem, pode-se descansar. O Xbox One é um console pronto, bem acabado tanto na parte de hardware como seu excelente Dashboard.
A adição do Kinect como peça central na comunicação com o console ainda tem alguns tropeços, mas não deixa de ser prática e muito melhor do que na geração anterior. Como central de mídia também há um excelente salto de qualidade, principalmente ao trazer o conteúdo da TV para dentro dele.
Pelo preço médio de 2.299 reais o Xbox One é um equipamento caro, principalmente se comparado ao preço nos EUA e Europa. Ao fim, a não ser que você esteja disposto a pagar para aproveitar o ainda pouco que ele tem até amadurecer, talvez seja melhor aproveitar os ótimos lançamentos da geração que acabou e aguardar até a metade do ano para fazer um upgrade.
Olha, você pode ter certeza: seja hoje ou daqui a alguns meses, você vai adorar ter um Xbox One!