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Cientista “sem querer” cria vidro com 2 átomos de espessura

Boa parte das descobertas científicas começam com um “hum… interessante”. Foi o que aconteceu, quando um experimento “sem querer” criou uma camada super-fina de vidro e resolveu um problema de 80 anos!

10 anos e meio atrás

Grande parte das descobertas científicas não começaram com pesquisas diretas, mas com um experimento dando errado, uma observação não batendo e um cientista segurando o queixo, batendo com o indicador no lábio e falando “isso é estranho…”.

A curiosidade é o grande impulsor, muitos dizem que nem existem experimentos que dão errado, são apenas mais dados pro projeto. Ou, com sorte, um novo projeto inteiro. Foi o caso de David A. Muller, professor de Engenharia e Física aplicada da Universidade Cornell.

Sua área de pesquisa era grafeno. Está na moda, todo mundo mexe com grafeno, mas algo deu errado. Ele estava produzindo uma placa da substância, que é essencialmente carbono, usando uma estrutura cristalina como base. Só que vazou ar no forno.

A estrutura cristalina estava apoiada em cobre, tudo isso reagiu com o ar, e quando David abriu a câmara, não tinha grafeno, mas uma gosma esquisita. Uma mente mais limitada chamaria um escravo (ou em linguagem científica, estudante de graduação) para limpar, mas ele resolveu examinar melhor a gosma antes.

Descobriu que o silício do cristal de quartzo havia reagido com o oxigênio do ar e formado uma estrutura de dióxido de silício, SIO², também conhecido como… vidro.

BÔNUS: vou sortear iPads imaginários para todo mundo que trouxer links de blogs de “tecnologia” que traduzirem a notícia falando de átomos de “silicone”.

Mais ainda: como a camada era muito fina, só com dois átomos de espessura, era excelente para observações diretas, coisa que, David A. Muller descobriu, não havia sido feita antes.

Usando provavelmente um microscópio de força atômica, examinou a amostra e produziu… imagens. O melhor: não só foi o primeiro a fazer isso, como comprovou experimentalmente as teorias de William Houlder Zachariasen, físico que dedicou sua vida a estudar a estrutura do vidro. Zachariasen previu a estrutura teórica de um vidro bidimensional em 1932. David Muller comparou lado a lado o desenho de 80 anos com a imagem moderna:

zaca

Nada mal pra um modelo criado em 1932, quando nem o fogo havia sido inventado.

A estrutura será utilizada em pesquisas com grafeno e em vários outros estudos. Muller ainda declarou:

Este é o trabalho que, olhando para trás em minha carreira, mais me orgulharei. É a primeira vez que alguém consegue ver o arranjo dos átomos em um vidro.”

Zachariasen, se vivo fosse, provavelmente daria um sorriso condescendente e falaria algo sobre físicos experimentais não serem totalmente inúteis! 😉

Fonte: FU.

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