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A computação pervasiva de cada um

16 anos atrás

Muito já se falou sobre a tal "computação pervasiva" que nada mais é que a interação transparente homem-máquina ("máquina" no sentido de "dispositivos computacionais") pelo mundo e agora, até ao ponto que a expressão virou hype e precisaram inventar uma nova: "Ubiquitous computing" (ainda sem tradução para o português) que é basicamente a mesma coisa.

Correndo o risco de cair no vulgar de novo, usarei o termo para descrever uma tendência onde a presença da computação é cada vez mais forte e invisível (para os usuários): os avanços da tecnologia nos sistemas de medição.

Trabalho em uma empresa dessa área, e lido com sistemas de última geração a cada momento. Infelizmente quando eu digo "última geração" para os aficcionados por tecnologia corro o risco de causar muitas decepções. O que ocorre é que a tecnologia nesta área (vamos considerar somente a área de medição elétrica) sempre foi muito conservadora. Dos serviços básicos a medição de energia só fica à frente da medição de água em relação à modernidade.

005_tema1bimMas isso não quer dizer que estamos estagnados. Nada disso. Os engenheiros de plantão estão vivendo neste momento o arranque da evolução tecnológica equivalente ao que a TI viu nos anos 90. Campos totalmente fechados estão se abrindo e projetos antes impensáveis estão sendo contratados em pilotos que atingem da cifra dos milhares.

Vou dar alguns exemplos.

Toda a malha elétrica do Brasil encontra-se atualmente conectada, de forma que é impossível dizer, em nível de elétron, se a energia que você consumiu nos últimos 30 segundos com a lâmpada do quarto foi gerada com 1.000 litros de água, 0,5 toneladas de bagaço de cana-de-açúcar, 200 litros de óleo diesel, 800 metros cúbicos de GLP ou 20 miligramas de urânio 235. Várias empresas compram energia gerada do outro lado do país e a regulamentação que põe em ordem a casa manda que a transmissão dos dados metrológicos seja em tempo real ou, no máximo com 24h após o consumo. Como esperar que uma grande fábrica no inteior do Acre cumpra essa lei?

Em um outro exemplo, imagine vários consumidores rurais. Existe uma forma de tarifa de energia especificamente para eles, e mais especificamente para os irrigantes. Como obter os dados de energia consumida (a cada 15 minutos) de um senhor que mora a 600km da capital e tem uma hortinha de 2 hectares?

DSC02917Agora voltemos às grandes cidades e vamos tentar imaginar, somente tentar, como uma concessionária de energia elétrica consegue obter a leitura dos medidores (ou "relógios") de 5 milhões de casas e apartamentos. Como saber quem está pagando em dia e controlar quem está com 2 anos de conta atrasados?

Satélites, frame relays, rádios, modems analógicos, modems celulares... Qualquer tecnologia que seja viável é utilizada. Nem sempre a mais rápida, nem sempre a mais confiável, nem sempre a mais barata, mas sempre a que melhor se adequar à situação.

Existem tecnologias de coletas de dados rurais que transmitem à impressionante taxa de 1 byte a cada 30 minutos (eu falei que era impressionante). Por que utilizar uma coisa tão lenta? Em primeiro lugar porque a comunicação é por PLC (Power Line Communications), que utiliza a própria rede elétrica, sem necessidade de implantar ou alugar um outro canal somente para comunicação. Em segundo porque não existe limite teórico de distância.

Finalmente, em várias grandes cidades do Brasil estão em fase de piloto medidores de eletricidade capazes de dizer seu consumo instantaneamente, além de dar informações que o consumidor nunca imaginou que seria possível. Hoje existem pelo menos 20.000 residências no Brasil (com esse número subindo para acima de 60.000 em 2009) que podem ter seu fornecimento de energia interrompido com dois cliques, ou serem religadas da mesma forma, tudo em 30 segundos. Também é interessante informar que é extremamente difícil conseguir fraudar o consumo nessas residências. Por outro lado, também é extremamente difícil roubar energia das mesmas.

Pois bem, muito foi falado, mas agora uma conclusão é necessária. E a conclusão eu deixo para vocês, com uma pergunta simples: "você sabia disso tudo escrito aí em cima?". Porque é bem provável que não. E já que não, você não sabia, imagine o que mais você, eu, os advogados, os médicos, os engenheiros, os arquitetos, etc. não sabemos à respeito da evolução tecnológica das áreas uns dos outros.

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