Meio Bit » Arquivo » Indústria » Visita à fábrica da Positivo: busca por qualidade e ouvido atento ao consumidor

Visita à fábrica da Positivo: busca por qualidade e ouvido atento ao consumidor

Visitamos a fábrica da Positivo em Curitiba: a empresa, novata no Android, é a única brasileira entre as (somente) 14 empresas no mundo que são licenciadas pela Google.

11 anos atrás

Fábrica de placas

Fábrica de placas

Ontem fui à Curitiba, Paraná, como convidada da Positivo, para conhecer suas instalações, linhas de montagem e laboratório de testes. Foi uma visita muito proveitosa e interessante, e vou falar um pouco do que eu vi por aqui.

Não, esse não é um post publicitário. Eu não tenho o costume de destruir marcas ou empresas, porque sei que cada empresa procura fazer o melhor com o que tem (e isso não se traduz apenas em dinheiro, mas também em mercado disponível, orçamento do consumidor, entre outros), e obviamente não quer ficar perdendo pros outros de propósito.

A Positivo não é uma Samsung? Não, não é. Mas nem por isso deixa de se esforçar para ter qualidade, e também para atender demandas do mercado brasileiro que a coreana não consegue.

Quer trabalhar em uma grande empresa de tecnologia, multinacional? Ótimo, tenha conhecimento em vendas, em administração ou marketing, pois aqui no Brasil é só o que você vai encontrar, na maioria dos casos. Quer trabalhar em desenvolvimento de software, de produto, P&D? Não na Samsung, nem na Apple, principalmente.

Não há espaço para isso aqui ainda, e o pouco que há está sendo morto aos poucos, como é o caso do INdT (Instituto Nokia de Tecnologia). Eles tinham escritórios em São Paulo, Recife e Manaus, eram conhecidos como referência no mundo todo. Agora, são uns poucos gatos pingados em Manaus, já sem muita perspectiva de carreira.

A Samsung também tem alguma coisa por aqui (é lei no Brasil), mas quantas vagas estão disponíveis? Para trabalhar na parte mais criativa, na que realmente põe a mão na massa, na parte que muda o que vai chegar na mão dos brasileiros, o melhor mesmo é procurar uma empresa brasileira. E, de preferência, uma que esteja comprometida com inovação e qualidade. Pode até ser que você ache que um notebook Positivo não bate um HP, mas tenha certeza de que eles estão trabalhando nisso.

Linhas de produção

Linhas de produção

O que é a Positivo em números?

Eles são bem importantes no Paraná (para quem vive no eixo Rio-São Paulo). Lá eles têm não apenas a fábrica, mas também centros de inovação, gráficas, universidades e escolas. Além da fábrica no Paraná (capacidade de 380 mil PCs, 180 mil placas-mãe, 60 mil placas de memória e 60 mil gabinetes por mês), eles também possuem unidades fabris em Manaus (capacidade de 35 mil PCs/mês), Ilhéus (capacidade de 10 mil PCs e 70 mil monitores por mês) e até na Argentina, na Terra do Fogo (capacidade de 60 mil PCs e 50 mil placas-mãe por mês).

Como no Brasil ainda não há recursos e nem demanda para a produção de todos os componentes, eles vêm de diversas partes do mundo, como Estados Unidos, o próprio Brasil (gabinetes, por exemplo) e, principalmente, da Ásia. Para não serem apenas uma empresa que importa componentes da terra do sol nascente, eles mantém escritórios em Shenzhen e Taipei, para personalizarem e negociarem o melhor para cá.

Fábrica de placas

Fábrica de placas

Eles empregam mais de 5,1 mil funcionários, estão em mais de 10 mil pontos de venda no Brasil e 2 mil na Argentina, e o último faturamento, contando todos os serviços do Grupo Positivo, alcançou a casa dos 4 bilhões. No mundo, são os 12º maiores produtores de computadores, e já venderam mais de 13 milhões de peças. Nas fábricas, sai um equipamento novo do forno a cada 15 segundos.

Linha de montagem de notebooks, desktops e tablets

A Positivo não atende só o consumidor. Quem é mais observador pode ver que escolas, faculdades e entidades do governo usam muito as máquinas da empresa. Corporações também, e por isso a Positivo fabrica muito mais do que sua linha normal de venda, e atendem pedidos variados e personalizados de acordo com o cliente.

Sendo assim, há uma sala antes da linha de montagem, que simula uma mini linha de montagem, onde cada novo pedido é montado uma primeira vez, completinho, para a checagem de qualquer problema de componentes, projeto, hardware e software. Isso economiza tempo e evita que um problema grave seja percebido apenas nos testes finais.

Rastreamento por lote ou item

Rastreamento por lote ou item

Aliás, teste é o que não falta. Durante vários pontos da montagem, há “funis” que testam todos os equipamentos, garantindo que nada vá com defeito (não que isso impeça problemas em 100% dos casos). Na primeira parte da linha, a placa-mãe recebe a etiqueta com o número de série, e a partir daí, alguns componentes maiores passam a ser rastreados individualmente, enquanto os menores são rastreados por lote.

Em toda a fábrica, 75% são mulheres, já que são mais atentas e possuem mãos e gestos mais delicados. Elas montam tudo na linha, recebendo a placa-mãe já completa e apenas montando tudo em seus devidos lugares, isso valendo para notebooks, ultrabooks, desktops, tablets e smartphones.

Conforme vão ficando completos, notebooks recebem os HDs (que já foram copiados com o que precisam antes de entrarem na linha de montagem) e iniciam a execução de mais de uma hora de testes de software e hardware. Se for detectado algum problema, já montado, saem para uma baia de manutenção e voltam para os testes.

Câmara de Pó

Câmara de Pó

No final de cada linha, eles são embalados, e recebem a etiqueta final do lote, para distribuição. Alguns, especificamente marcados, são retirados para uma nova auditoria, onde são desembalados e retestados completamente. Como podem ir para organizações do governo, auditorias de lotes inteiros podem ser feitas.

E falando nos compradores, a Positivo costuma já ter quase tudo o que é fabricado pré vendido, não apenas para governo e corporações, mas também para lojas. Todo o gigantesco estoque que eu vi estava completamente faturado, impressionante.

Fitas com componentes

Fitas com componentes

Além da linha de montagem, há também a montagem celular, onde um funcionário monta completamente uma máquina toda. Isso serve para pedidos personalizados menores, para que tempo não seja perdido no repasse de novas instruções para a linha de montagem, para tão poucas peças.

Tudo é bem rigoroso, e para entrar na área de montagem todo funcionário precisa colocar seu “login” e passar por uma máquina que testa o nível de estática do corpo e das roupas (estática, essa maligna destruidora de componentes). Todos usam ou jalecos especiais, ou roupas de algodão que não criam estática.

Teste de Abrasividade

Teste de Abrasividade

Linha de montagem de placas-mãe

A linha de montagem das placas-mãe é um pouco diferente e mais rigorosa. Ao invés dos galpões normais onde são montados os produtos, nessa área até o chão é especial para não juntar estática, além da climatização do local. As placas peladas e os componentes são recebidos de fora, e completamente montados na fábrica.

Grandes máquinas passam na placa, como se em um processo de silk screen, a pasta de solda. Um scanner confere se a massa foi colocada nos locais certos. A partir daí, a placa entra em uma “impressora” da componentes, e vemos fitas dos mais minúsculos itens sendo consumidas para a montagem.

Fábrica de placas

Fábrica de placas

Depois de mais uma conferência via scanner (está tudo no local certo? Tudo foi colocado?) a placa vai para um forno de até 270º C para secar a solda. A seguir, mais uma conferência, dessa vez humana, que confere valores de resistores e peças montadas, para garantir que não há nada errado. Uma última cola ajuda as peças a não se soltarem no manuseio.

A partir daí, a montagem é manual. Há componentes (algumas conexões e a bateria, por exemplo) que precisam ser colocados depois do forno, ou poderiam explodir. E como a montagem desses componentes maiores seria demorada caso fosse feita nas máquinas, pessoas trabalham nessa parte final, colocando também proteções e jumpers para facilitar a montagem na linha.

Assim como nos produtos, peças aleatórias são escolhidas para auditoria, e testes posteriores também são feitos antes de seguirem para a montagem dos produtos.

Scanner para a massa de solda

Scanner para a massa de solda

Laboratório de testes

O lab de testes foi, com certeza, a parte mais legal da visita. O que vi não é tudo o que eles têm disponível, pois fica tudo dividido em mais áreas e escritórios de inovação (como o CITS, também no Paraná), mas o que vi lá já foi muito interessante.

Haviam máquinas que conectavam e desconectavam periféricos (conexões USB, P2, VGA e outras) milhares de vezes (com milhares, digo de 15 a 30 mil vezes, ou até mais), outra que tecla tudo no teclado, outra que abre e fecha a tampa/tela do notebook até que ela comece a ranger (ou destrua o flat cable – de volta pra mesa de projetos), e uma que testa a abrasividade dos materiais, esfregando borrachas, lápis e até cremes de mão, protetor solar e detergente para ver em quanto tempo o material cede.

Teste Térmico

Teste Térmico

Vi também a famosa "drop test", em que jogam smartphones de 30 ou 120 centímetros de altura (em que seguramos os aparelhos nas mãos), e derrubam notebooks e ultrabooks de todos os jeitos possíveis. Uma aumenta e diminui a temperatura para checar se componentes param de funcionar ou se superaquecem. Uma outra, que joga pó em tudo, testa a cola da tela e também o esquema do superaquecimento (reclamação ouvida dos consumidores, que relataram problemas assim).

Montado em 2010, esse lab não tinha referências no Brasil (pelo menos não publicáveis pelos concorrentes) para sua criação, e por isso a Positivo visitou diversos labs de teste pelo mundo, inclusive em outras áreas, como a automobilística. Em um dos processos de teste, um spray é jogado no equipamento, que é transformado em projeto CAD por uma impressora 3D, para checar a qualidade da construção depois de pronto. Esse processo é utilizado em carros.

Teste de Queda

Teste de Queda

Além dessa área de testes, eles também contam com laboratórios de inovação e de UX, onde observam beta testers e usuários de diferentes tipos de conhecimento, também para aprimorar os produtos. Me contaram de um caso em que um notebook avaliado pela imprensa foi reavaliado por reclamações de que os botões do trackpad estavam muito duros, o que se revelou como sendo verdadeiro.

Vale dizer que mais de 300 profissionais trabalham no desenvolvimento de novos produtos e soluções. Só nos últimos cinco anos, foram mais de R$ 200 milhões investidos em P&D.

Teste dos produtos

Teste dos produtos

A frustração com o Android

Apenas para finalizar, um caso engraçado. Por estarem entre os maiores fabricantes de computadores, a Positivo é levada em alta importância por empresas como Microsoft e Intel, por exemplo. Entretanto, como estão “entrando no mundo Android agora”, se sentiram um pouco frustrados ao terem que lidar com a Google, que nem sabia quem era a Positivo.

Teste de Durabilidade de Teclado

Teste de Durabilidade de Teclado

Ainda assim, eles seguiram em frente, e até enviaram um funcionário para trabalhar junto ao Google. São muitas as exigências da empresa para adotar o Android, e os hardwares precisam seguir alguns itens para serem aprovados. Mas vale o esforço, pois a Positivo é a única brasileira entre as (somente) 14 empresas no mundo que são licenciadas pela Google.

Assim, alguns produtos deles já possuem a inscrição "with Google", e isso lhes dá o direito de colocar em seus hardwares a lojinha de apps Play Store e diversos outros apps oficiais da empresa. O hardware não é o mais parrudo, mas muitas marcas brasileiras (todas as outras, aliás) não podem exibir certificado Google de uso do Android.

Teste de Conexão

Teste de Conexão

Finish him

E assim terminou a visita. Parece baba ovo, mas eu conheço as limitações da empresa e sei reconhecer que estão fazendo coisas legais. Tudo o que falei sobre certificação Google, entre outros itens, não são pra qualquer um. Eles não são comparáveis à Apple ou Samsung mas, se você pensar bem, talvez eles não queiram isso.

Eu sempre considero muito válidas visitas às fabricas das empresas. A coisa fica mais pessoal, entendem? Ao invés de apenas abrir uma caixa com um produto e cair matando em cima dele, você acaba conhecendo o “ninho do bicho”, de onde ele saiu, como é feito e tudo, tudo o que há por trás da peça final, para que ela chegue até você (ou não).

Teste de Durabilidade de Dobradiças

Teste de Durabilidade de Dobradiças

relacionados


Comentários