Eddie Silva 11 anos atrás
Quando a minha irmã perguntou o que era o brinquedinho que eu estava usando, ao invés de explicar, preferi mostrar o vídeo demonstrativo do Glass produzido pela Google. Após ela assistir por uns 2 minutos, olhou pra mim e perguntou: então, pra que serve? Naquele momento vi que nem a Google conseguiu explicar a concepção do Glass. A melhor maneira de explicar foi deixá-la usar o Glass e em menos de 30 segundos ela já estava maravilhada.
Realmente nem gravando video ou escrevendo conseguiria descrever o que é o Google Glass, mas tentarei relatar a minha experiência de duas semanas usando o Glass.
Como diria o poeta, vamos começar pelo começo.
Tudo deu início no dia 28 de fevereiro, último dia de terminar as inscrições para concorrer a oportunidade de ser um dos 8.000 Glass Explorers que a Google iria selecionar para testar e ajudar no projeto Glass. Para participar bastaria enviar um tweet com a #ifihadglass contando o que você faria se tivesse o Google Glass. Enviei 2 tweets – o que era permitido – e no dia 27 de março fui um dos 8.000 Glass Explorers – como somos chamados - selecionado nos EUA.
@projectglass #ifihadglass I would record the making of the documentary about covered bridges in Pennsylvania pic.twitter.com/nIZ38WjcdX — Eddie Silva (@eddienews) February 28, 2013
@eddienews You’re invited to join our #glassexplorers program. Woohoo! Make sure to follow us - we’ll DM in the coming weeks. — Project Glass (@projectglass) March 27, 2013
Após ser selecionado, passei a ler e acompanhar todos os blogs e reviews do Google Glass. Queria ficar “expert” deste novo brinquedinho e a cada matéria que eu lia ou assistia, aumentava ainda mais a ansiedade. Finalmente no dia 18 de junho recebi a DM com as instruções. Visto que leva +/- 1 hora para fazer o setup do seu Glass, ajustar e ensinar o manuseio, todos só poderiam buscar o Glass por meio de um agendamento. Só consegui agendar para o dia 28 de junho às 6 da tarde em New York City.
Como moro em Pittsburgh, na Pennsylvania – umas 7 horas de NY – resolvi sair no mesmo dia pela manha de carro e com as tradicionais paradas para aliviar a bexiga e fazer o refill da Coca-Cola, acabei chegando em Manhattan às 5 da tarde.
O local para buscar o Glass não era no mesmo prédio da Google em NY e sim no prédio em frente no oitavo andar do New York City's Chelsea Market na nona avenida com 14 Street, um lugar perfeito e lindo para ser o headquarters do Google Glass em NY.
Eu já tinha feito a lição de casa todo este tempo para este grande dia. Tinha comprado o HTC One e com dores no coração deixando meu iPhone 5 de lado e instalado o app MyGlass no Android. Já sabia como ligar, como tirar foto, como manusear devido a todo o treinamento que tive nos últimos 2 meses assistindo vídeos e lendo diversos reviews. Mas confesso que nada disso adiantou e explico em breve.
Quando você sai do elevador no oitavo andar é recebido por duas recepcionistas que usam o Glass – of course - e estampam em seus rostos aquele sorriso de estar trabalhando no melhor emprego do mundo. Após uma breve conversa e apresentarmos – eu e minha esposa – uma identidade, recebemos os crachás e aguardamos a nossa vez. A cada pessoa que chegava e dizia de onde veio e o que fazia, parecia que já nos conhecíamos por estarmos lá com o mesmo objetivo. Para quebrar o gelo também é oferecido para você, bebidas como champagne, cerveja ou uma simples água.
Até que chega o momento tão aguardado. Uma moça nos atende e nem recordo o nome dela. Também conversa de modo agradável para que a nossa experiência seja a melhor possível. Após uma breve conversa e apresentações ela pergunta qual a cor que escolhi e se gostaria de mudar. Uma coisa é escolher pelo site, outra coisa é testar cada um na frente do espelho e fazer a escolha final. Minha escolha inicial era o modelo charcoal, uma espécie de cinza escuro e fui convencido pela minha esposa que o Shale – cinza claro – ficaria melhor no meu rosto.
Após você fazer a escolha final, você senta entre biombos que separam você com uma boa distância de outros Glass Explorers e finalmente vem o momento tão aguardado por todos que participaram na promoção. A atendente traz uma bela caixa branca e coloca em suas mãos e fica aguardando a minha reação com um sorriso de quem gosta de ver uma criança ganhando um presente. Abro a caixa com o mesmo cuidado quando abro meus outros gadgets e sim pode me chamar de freak. Um papel de seda branco meio transparente tenta esconder ou dar um suspense maior. Quero apreciar a cada segundo daquele momento que me preparei por uns 2 ou 3 meses. Naquele momento já não penso se foi uma boa idéia ter comprado, se valerá a pena. A única coisa que passa na minha mente se conseguirei tirar o papel sem amassar. Depois de um tapa da minha esposa dizendo num português bem claro: amorzinho, é apenas um freak paper, tira logo isto antes que eu rasgue na frente dela.
Pronto papel de seda tirado com todo cuidado e lá está a minha criança. Pedindo de braços abertos para pegá-la e colocá-la no meu rosto. Enquanto isto a atendente só se divertia com a minha reação. Neste momento ela pede com toda educação para pegar o Glass e poder fazer o ajuste perfeito para poder tirar o melhor proveito dele. E quando disse em ajuste perfeito eu não estou brincando. Ela manuseava e entortava a armação quase dando uma volta 360 graus entre as duas hastes. Ela vendo meu apavoro de quem pensava “ela vai quebrar” explicava que a armação era feito de titânio e não deveria me preocupar. E ela não sossegou enquanto não achasse o setting perfeito para meu rosto. Depois de várias tentativas chegamos a um consenso e estava preparado para a próxima fase que seria configurar o Glass.
Por ser uma entrega personalizada e com hora marcada, o Glass já vem com a bateria carregada e a configuração é mais “ridícula” do que você possa imaginar.
O primeiro passo é baixar o app MyGlass no HTC One – o que eu já tinha feito um mês atrás – e acionar o que irá gerar um QR code. Com o Glass ligado sem precisar fazer nenhum comando, basta olhar no QR e zip zum paralimpimpum e ele está configurado com a sua conta do Google. Imediatamente aparece a sua foto e precisamos apenas fazer algumas configurações finais, mas não necessárias. Em menos de 2 minutos, eu já estava brincando ou melhor tentando brincar pois todo aquele conhecimento que estudei e citei no início foi pelo glass abaixo. Graças à paciência e o bom humor da atendente, em 5 minutos eu já estava entendendo o conceito de deslizar o dedo pra frente, para trás e para baixo.
Os passos para aquela configuração não-tão-necessária que citei, ela usou para eu estar mais familiarizado com o Glass e passarei abaixo para vocês também entenderem o conceito.
Para vocês acompanharem o processo, utilizarei as imagens geradas pelo screencast do app MyGlass. Tudo o que vejo no Glass pode ser visto na tela do meu HTC One.
Primeiro ao colocar o Glass aparece o relógio com o “Ok, Glass” e sempre que você ver o relógio basta falar “Ok, Glass” que irá aparecer um menu com todas as opções que o Glass pode fazer respondendo ao seu comando de voz. Só que isto irei explicar depois. Primeiro vamos ver como faz a configuração.
Quando aparecer o relógio deslize o dedo na haste direita do Glass para trás. Cada vez que você deslizar o dedo aparecerão vários cartões que geralmente você vê no Google Now como temperaturas, distância e tempo do seu trabalho até a sua casa, restaurantes ao seu redor, etc. A última opção e a que queremos é onde aparece Settings.
Para acionar o Settings basta dar um leve toque com o dedo na haste. Lá aparecerá se você está ou não conectado no Wi-Fi. Caso haja alguma conexão disponível por perto, basta você conectar pelo seu smartphone Android/iOS e o Glass estará conectado automaticamente.
Deslize seu dedo para frente e o Glass mostrará se você está conectado na internet via Bluetooth do seu smartphone. Para poder receber e fazer chamadas o Glass também precisa estar sincronizado com o seu smartphone.
Deslizando o dedo para frente, a próxima opção é a que mostra as informações do Glass. Quando recebi o Glass, a versão do sistema era XE5, mas no dia seguinte ele atualizou automaticamente para XE6 e recentemente para XE7. O espaço de armazenamento é de 12 gigabytes, o que é suficiente levando em conta que todas as fotos e vídeos são enviados para o Google+ em modo privado como backup. Assim você pode deletar as fotos e vídeos economizando espaço.
Deslizando o dedo para frente a proxima opção é Head Wake Up. Se ele estiver habilitado, bastará olhar pra cima para acionar a tela do relógio. Você pode escolher o ângulo que deseja usar para acionar o Glass. Eu deixei em 30 graus mesmo e assim não aciona o Glass a cada momento quando você faz um leve movimento com a cabeça para cima. Você pode desabilitar e, para acordar o Glass, basta um leve toque na haste.
Próxima opção ao deslizar o dedo para frente é - se desejar - habilitar On Head Detection. Basicamente é o seguinte: se ele tiver acionado, ao tirarmos o Glass da cabeça, ele desliga. Ao colocá-lo de volta, ele liga. Deste modo economizamos uma boa bateria.
Por falar em bateria este não é o forte do Glass, mas não dá para reclamar. Nos primeiros dias em que eu queria tirar foto e filmar tudo, a bateria durava menos de 2 horas. Hoje, já acostumado com o Glass, consigo algo em torno de 6 a 8 horas.
E a última opção do Settings é o modo Guest. Pensando já na possibilidade de muitos pedirem para fazer um teste e você ficar sem graça porque não quer compartilhar suas informações privadas no Glass que a Google providenciou o Modo Guest. A cada vez que eu empresto o Glass para alguém usar, coloco neste modo e assim a pessoa não tem acesso aos meus emails, às minhas fotos, etc. Ela consegue navegar normalmente, tirar fotos, filmar, pesquisar no Google e até ver direçoes no GPS.
Voltando ao oitavo andar do New York City's Chelsea Market, após a rápida explicação do Settings que a atendente me ensinou e mostrei para vocês, ela me levou à janela onde se tem uma vista da downtown de NYC e até o novo prédio do World Trade Center. Provavelmente é a paisagem da primeira foto de todos os Glass Explorers que foram em NYC para buscar o seu Glass.
Voltando ao biombo, a atendente dá as instruções finais. Ela usando o Google Pixel – e, por eu estar tão concentrado no Glass, não consegui desfrutar muito do Google Pixel que realmente é um excelente, lindo e charmoso laptop – acessa a minha conta do Google: depois de eu digitar a minha senha de 21 caracteres, ela mostra a área ou home do Glass. Tem diversas informações como quem está online, comunidade e também os apps disponíveis, basta você acionar o app pelo site e fará sync automaticamente no seu Glass.
Escolhi Google+, Google Now, NY Times, CNN, Twitter, Evernote para começar. Após isto, a atendente desconecta da minha conta no Pixel e me entrega a sacolinha preta onde temos os protetores dos olhos ou lentes se preferir: as lentes pretas polarizadas para usar durante o dia e assim aparentar ser menos estranho do que já é e as transparentes. Esta tentei usar dentro de casa ou em ambientes sem muita iluminação e parece que tem um mínimo de grau possível, pois acaba te incomodando como se não fosse 100% transparente. As pretas são muito boas para usar no sol ou ambientes com muita iluminação.
Guardo o Glass com aquele cuidado que um geek tem com os seus gadgets e minha esposa quase arranca de minha mão e guarda ela mesma devido à minha demora. 🙂 Depois de 1 hora recebendo todas as instruções, treinamentos com um tratamento VIP, é hora de se despedir. Talvez por ser um dos últimos a ser atendido, todos os funcionários estão na entrada te dando adeus e agradecendo pela visita. E lógico todos com os sorrisos e seus Glasses nos rostos. Olho para trás e realmente fui o último.
Acompanhe o resto das minhas experiências com o Google Glass na segunda parte deste review.