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Campus Party, Tapscott, moinhos de vento e galões d’água

Campus Party 2013: confira 2 belos projetos de organizações independentes não mencionados pela palestra de Don Tapscott.

11 anos atrás

Na última semana estive na Campus Party, principalmente para acompanhar as palestras do palco principal. Desde a de Buzz Aldrin, que foi o maior motivo para eu comparecer à feira, passando por Marc Prensky e Nolan Bushnell, posso dizer que fui surpreendido pela apresentação de Don Tapscott.

don-tapscott

Bastou menos de uma hora para o escritor deixar claro que todos nós, sem exceção, somos parte importante na resolução dos problemas do mundo. O modelo de governo criado no fim da Segunda Grande Guerra, onde apenas os representantes das nações tem voz, não o indivíduo, não mais funciona. No atual formato, não importa o que façamos, a curto prazo as pessoas no mundo todo vão sofrer.

EDIT: recomendo a todos, vejam a palestra completa.

É preciso mudar a forma de agir, e para isso nós, enquanto indivíduos devemos tomar nosso lugar como um dos pilares da Rede de Mudança Global. A pergunta é: como?

Tapscott mencionou vários projetos pequenos de organizações independentes que estão fazendo sua parte, e me lembrei de dois casos não mencionados que me chamaram a atenção tempos atrás, coincidentemente, ambos atuantes principalmente na África.

William Kamkwamba, o menino que domou o vento

william

A África não é um lugar legal. Não só pelo índice de pobreza extrema, níveis de Aids estratosféricos e guerras civis intermináveis, mas também por não haver uma organização decente para levar cultura à população e, por conta disso, as pessoas de lá ainda não saíram da Idade do Bronze, pois só isso explica o nível de crendice e ignorância que, por exemplo, mata albinos para fazer poções. E eu não estou brincando.

Foi de um desses lugares da África entre o nada e o lugar nenhum chamado Malaui que veio essa história. William vive numa comunidade (estou sendo bonzinho usando esse termo; sequer pode ser chamada de civilização) que não tinha eletricidade, pouquíssimas pessoas possuíam geradores e água, só através de bombas manuais. Saneamento básico? Esqueça, isso é luxo na África.

William foi retirado da escola por seus pais aos 12 anos, pois eles não podiam pagar por seus livros e cadernos. A região passava por uma seca terrível (o Malaui é um país que vive essencialmente da agricultura) e as condições eram as piores possíveis. Mas para William desistir não era uma opção. Ele não sofria de conformismo e também não ia levantar as mãos implorando ajuda por um deus que não iria ouvi-lo de qualquer maneira. Já que ninguém o ajudaria a aprender, ele decidiu que o faria sozinho.

William começou a estudar por conta numa biblioteca mantida pelas Nações Unidas. Mesmo seu pouco conhecimento de inglês não foi uma barreira, ele estava decidido a encontrar não só o acesso ao conhecimento que lhe fora negado pelas adversidades da vida, como uma saída para a situação agonizante (sem trocadilho) que sua região vivia.

Foi lá que ele encontrou um modelo bem simples de geração de energia: um moinho de vento. Ao perceber que poderia construir aquilo, logo ele pôs a mão na massa. Com nada mais do que sucata, ele construiu o moinho e levou energia elétrica para vários lugares. Claro que a turma do “não pode ser feito” caiu de pau em cima dele, afinal, era um garoto de 14 anos mostrando que abaixar a cabeça não era uma atitude aceitável. Mas o fato é que as pessoas agora podiam ter água mais facilmente com bombas elétricas, carregar seus celulares e acender suas lâmpadas, ou mesmo ouvir rádio e assistir TV.

Resultado: William escreveu um livro, viajou o mundo contando sua história e levando sua ideia para quem precisasse, e até palestrou no TED, duas vezes. Abaixo o vídeo de sua segunda apresentação:

charity: water, um projeto que leva água limpa para quem precisa

charity

Olhe para o copo d’água na sua mesa. Veja como ela está limpa. Pois bem: mais de 1 bilhão de pessoas no mundo todo (pouco mais de 14% da população total) não tem acesso ao que nós conseguimos de forma banal. Sim, é assustador.

Scott Harrison viu isso de perto. Após uma viagem à África como voluntário, um dos promoters mais badalados de Nova York criou a charity: water, uma instituição que visa apenas levar água limpa às comunidades mais carentes de diversas partes do globo, sem depender de projetos mirabolantes ou valores astronômicos. E ele faz isso inclusive arrecadando dinheiro das baladas que promove hoje em dia.

Diferente de alguns projetos por aí, a charity: water chama atenção por dois motivos: primeiro, seus esforços se focam na segurança de fontes naturais e instalação, reparo e manutenção de poços artesianos, projetos esses que não demandam de grandes investimentos ou infraestrutura. Segundo, a ONG é extremamente transparente: tudo que é doado é usado nos projetos. Ela em si se mantém com consultorias e doações vindas de outras fontes (sim, as contas são separadas). A charity: water também funciona como rede social, onde qualquer um pode criar sua campanha de doação. Cada campanha encerrada, após o dinheiro ser aplicado, em até 18 meses apresentará um gráfico que detalha em que país a contribuição foi investida, quantas pessoas foram beneficiadas, qual o tipo, de projeto, quanto foi gasto nele, etc. Neste link está a campanha de um amigo para a qual doei 50 dólares, e lá está tudo detalhadinho. No momento, através de um e-mail da ONG, soube que o dinheiro foi investido em duas campanhas, uma na Repúbica Democrática do Congo, e outra na Costa do Marfim.

E mais importante: dar acesso à água potável economiza tempo, que pode (e deve) ser empregado em educação, saúde e diversas outras formas. Em suma, ajuda a desenvolver comunidades inteiras. Vejam o vídeo institucional, é muito bom.

São dois exemplos de atitudes de pessoas comuns que, num grau ou noutro, estão dando nova vida a milhares de pessoas ao redor do planeta. Mudar o mundo não consiste apenas de derrubar um governo ou num menor grau, ficar xingando nas redes sociais sem levantar a bunda do sofá. Levar energia e água limpa, para essas pessoas, mudou o mundo. Mudou seu mundo.

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