Meio Bit » Arquivo » Fotografia » Projeto Fotográfico - está na hora de você ter o seu

Projeto Fotográfico - está na hora de você ter o seu

12 anos e meio atrás

Em meus anos como professor encontrei muitos tipos de fotógrafos entre minhas turmas. Encontrei aqueles que estavam lá porque o tema fotografia era bacana, mas não era nada muito profundo, mais um cursinho para adicionar ao currículo. Encontrei aqueles que caíram de pára-quedas na sala de aula e tinham apenas a pretensão de melhorar as 20 milhões de fotos que faziam em cada balada. Encontrei aqueles que queriam apenas aprender os macetes para poder entrar na área profissionalmente (alguns ficam tristes logo no começo quando falo dos investimentos iniciais necessários). Também temos aqueles que já estão trabalhando, mas nunca tiveram uma capacitação em fotografia e estão apanhando do equipamento. E, por fim, temos aqueles que estão lá por pura expressão artística. E desse último grupo que gosto mais.

Na minha última turma, que teve o tema de fotografia de natureza, tive três casos muito significativos. O primeiro foi de um bombeiro que gostou tanto da coisa que até já entrou para o Fotoclube. O segundo foi de um agente penitenciário que me disse uma das coisas mais legais de serem ouvidas por um professor: "eu nunca pensei, em minha vida, que iria ficar tão emocionado e investir em algo como a fotografia. Pensei que seria apenas mais um cursinho em minha vida". E o terceiro caso foi de uma Oficial de Justiça que encontrou na fotografia uma maneira de se expressar. Todos eles estão no começo do aprendizado, mas garanto que vamos colher ótimos frutos dentro em breve.

Esse é o ponto que gostaria de chegar. Sinceramente, não consigo entender pessoas que trabalham dentro da fotografia e consigam encarar a atividade apenas profissionalmente. Já encontrei fotógrafos que saem para trabalhar como se fossem bater concreto em uma obra. Marrentos, mal humorados e apenas com a sensação de estarem cumprindo uma obrigação. Esse deve ser o pior castigo do mundo. Ter a chance de produzir arte e não gostar nem um pouco disso. Infelizmente essas coisas acontecem. Mas, para você que não passa por isso e vê na fotografia uma forma de mostrar para o mundo um pouco do que você pensam, está na hora de começar a dividir a sua produção em projetos fotográficos. Isso é obrigatório? Não, mas garanto que vai tornar a sua atividade fotográfica muito mais divertida e produtiva. Vai dar um rumo para sua visão artística.

Um momento crucial na vida de todo artista é quando começa o auto-questionamento. Qual minha visão, meu objeto, qual o rumo de minha produção? Quem não se encontra no meio artístico pode achar isso uma coisa sem importância para o fotógrafo, mas em um momento isso acaba pegando, principalmente depois de alguns anos dentro da fotografia. Você passa a questionar se todas aquelas fotos que produziu dentro de assuntos variados podem ser classificadas como uma produção artística coerente. Se tudo aquilo vai ser encarado por quem observa como um trabalho representativo de sua visão. Nesse momento você passa a procurar um foco, uma direção, uma maneira de tornar tudo relevante. Você passa a procurar sua unidade formal (estilo, técnica, olhar) e a sua unidade temática (temas relativos à sua produção, a história que você vai contar, compor).  É nessa hora que a mente trava e você se desespera.

Nessa situação me lembro do filme Pollock (2000) com Ed Harris no papel principal. É marcante a cena onde o artista senta no chão em frente a tela branca e se pergunta "e agora?". Para a fotografia isso não é muito diferente. Quando isso acontece, procurar um rumo é a principal solução. A primeira coisa a se fazer é decidir a vertente ou vertentes fotográficas a se seguir. Não precisa ser apenas uma idéia. Pode ser um conjunto, mas o principal é saber que esse tipo de projeto não é uma coisa a ser executada a curto espaço de tempo. Em meu caso, me assumi como um retratista. É o que mais gosto de fazer e o tipo de fotografia que realmente me dá prazer. Expressar a personalidade de uma pessoa através de uma imagem e, às vezes, apresentar o próprio fotografado à sua essência pela primeira vez. Não são casos isolados de o fotografado se enxergar pela primeira vez em um retrato bem executado.

Mas, existem outras possibilidades. Há uma quantidade enorme de temas e oportunidades espalhadas pelas nossas cidades. Podemos trabalhar a natureza, a fotografia macro, o desenvolvimento urbano, as necessidades das minorias, a auto-estima dos grupos de risco e até a importância da vida humana. Porém, três coisas são muito importantes quando você escolher os seus projetos, sendo que duas já foram citadas aqui no texto. A primeira é ter certeza de que você vai conseguir contar a sua história de maneira convincente. A nossa famosa unidade temática. As imagens devem formar um conjunto que possibilite ao observador sentir o que você tentou transmitir. A segunda é que esteticamente você também deve manter uma unidade. Aqui temos a maior dificuldade dos fotógrafos iniciantes. Criar uma linguagem própria dentro da composição fotográfica é um caminho árduo. A terceira coisa, que considero a mais importante, é que o trabalho deve trazer algum benefício para seu objeto fotográfico, principalmente se as fotos se referirem a pessoas ou grupos sociais. Não seria uma obrigação, mas acho uma postura mais ética já que você está se valendo disso para sua produção artística.

Agora que você decidiu que quer fazer um trabalho relevante, é hora de colocar a mão na massa. Estudar muito, escolher o seu tema e desenvolver seu olhar. A coisa é fácil? Não, mas se fosse não seria divertido.

Leia mais sobre: , .

relacionados


Comentários