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Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos

12 anos atrás

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Vou contar um segredo: Existem 10 blogs muitos melhores que o MeioBit, mas ninguém conhece. Também existem 10 vlogs muito melhores que o do Felipe Neto, mas ninguém nunca ouviu falar. Há 10 sites com fotos de qualidade de celebridades melhor que o Expostas, mas nunca tiveram a sorte de aparecer. Existem 3, talvez 2 blogueiros melhor que eu, mas já mandei os ninjas e isso será resolvido em breve.

Ontem estava acompanhando o SENSACIONAL (pelos motivos errrados) programa do Dr Rey na RedeTV, ao mesmo tempo em que tentava ver o Pânico e o Chegadas e Partidas na GNT, que assisto pois gosto do conceito "cair de paraquedas" nas histórias alheias.

Percebi que não conseguia me dividir entre três atrações BOAS, algo que teoricamente não deveria acontecer.

Nelson Rodrigues disse (ou eu disse que ele disse, dá no mesmo) que 90% da produção intelectual humana é lixo. Eu concordo plenamente, mas nem ele nem ninguém conseguiu prever a quantidade de material produzido.

Nos primórdios da Internet defendíamos que esse seria um daqueles problemas que se resolveriam sozinhos; como a maior parte da produção é lixo, as próprias pesssoas cuidariam de selecionar o material de qualidade, que ganharia destaque e seria naturalmente reconhecido.

Isso funcionou por um tempo, mas hoje tudo é tão ágil, temos tanta gente produzindo conteúdo, que caímos no Dilema da Biblioteca; temos um tempo finito de vida e virtualmente infinitos livros para ler. Sem maiores pretensões eu tinha 3 conteúdos de qualidade (no sentido de me agradarem) mas que perderiam a graça se consumidos em outras circunstâncias. A Internet matou o Horário Nobre mas não o consumo grupal. Assistir TV se tornou uma experiência coletiva.

Aí chegamos ao ponto de ruptura, ou Singularidade. Temos mais conteúdo de qualidade do que conseguimos consumir. Eu sempre defendo canalhamente que blogs não têm concorrência, mas isso é só pra não encher a bola do Mobilon (ele não precisa). Mas temos. Concorremos pelo bem mais precioso dos leitores, seu TEMPO. Nossos concorrentes vão na verdade além dos outros blogs. Concorremos com podcats, vlogs, programas de TV e qualquer outra mídia que consuma tempo do nosso leitor.

Vivemos no Pior dos Tempos, onde temos que competir com milhares de opções (fora twitcams de cachorras mostrando os peitchos) e essa competição é tudo menos leal. Uma chamada do Fantástico é muito mais poderosa que qualquer campanha de blog.

Vivemos no Pior dos Tempos, onde nós, produtores de conteúdo temos que criar sabendo que seremos kibados, sabendo que a TV Sdruvs vai roubar nossa pauta e não dar crédito, ou então que a verba da campanha que garantiria 6 meses de sobrevivência foi pro blog do sobrinho do diretor do produto que seria divulgado, e como não há uma mensuração real, nunca vai ˜dar merda˜.

Por outro outro lado, vivemos no melhor dos mundos. Nós, consumidores de conteúdo estamos recebendo de graça material que nunca sonhamos em ter acesso. A Microsoft disponibiliza hoje softwares que valeriam milhares de dólares antigamente. A Apple liberou toda a tecnologia para criação de eBooks, séries de TV (na civilização) estão disponíveis online de graça. Antigamente tínhamos o episódio e só. Hoje temos featurettes, making ofs, bate-papos com a equipe, sites, comunidades de fãs, vídeos exclusivos e webseries.

Temos fanfics maravilhosos (Harry Potter and the Methods of Rationality, recomendo), traillers, filmes de fãs (Batman: Dead End, assista) .

Vivemos uma Era de Ouro do Conteúdo, onde boa parte desse conteúdo de qualidade está sendo criado por gente que não está recebendo por isso. Realisticamente falando, por não poderem. Só que essa restrição só existe por causa de nossas regras de Copyright draconianas. No dia em que um sujeito puder fazer um filme do Batman sem medo de ser processado E ganhar por isso, tudo mudará.

Não estou dizendo que será oba-oba, imagino que os detentores da propriedade intelectual sejam respeitados, e todo fanfilm do Batman que gere renda pague um tributo a quem de direito, mas que a autoridade final seja de quem cria, não de quem detém o direito de imagem.

A experiência atual mostra que ao contrário do que se imagina, a quantidade de gente criando coisa boa é tão grande que o lixo, que as histórias ruins que iriam depor contra a imagem do Batman, as histórias que justificariam uma ação de perdas e danos não conseguiriam espaço.

E mesmo que consigam, Batman resistiu ao Adam West, que aliás rendeu dinheiro a rodo.

Portanto, acho que é hora de parar de se preocupar e passar a amar a Internet. Mesmo que ninguém assista seu vlog.

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